O Desafio de Romper Barreiras no Mercado Publicitário para Agências de Favela
Em meus 11 anos de trabalho com comunicação em Paraisópolis, tenho vivenciado desafios constantes para entrar no mercado publicitário e na produção audiovisual. O que me chama a atenção é que, apesar de termos conhecimento e capacidade para desempenhar um trabalho de alta qualidade, esse mercado milionário parece relutante em compartilhar espaço com as agências de territórios periféricos. O que vejo é que, embora a favela tenha se tornado um novo nicho de mercado, as produções locais não são valorizadas. E isso vai além da comunicação: atinge diversos outros serviços.
A frustração surge com frequência quando uma empresa nos procura, mas não valoriza o trabalho porque vem da favela. Não enxergam que são profissionais qualificados, produzindo com autenticidade e excelência. Para essas empresas, o nosso trabalho parece ter menos valor do que o das grandes agências que não são da quebrada. Nos tratam como se estivessem fazendo caridade, oferecendo o que querem ou o que podem, mas exigindo com pouco, uma grande produção. Os orçamentos são sempre muito abaixo do mercado, e ainda esperam que aceitemos com um sorriso, como se estivessem nos fazendo um favor. Afinal, “ajuntar os coitadinhos” também rende boas fotos e marketing positivo.
Até apresentar nosso trabalho se torna desafiador. Em certa ocasião, durante uma reunião com um chairman de uma grande agência, que constantemente prega proximidade com o público consumidor da favela, uma pessoa da minha equipe mal conseguiu se apresentar. Bastaram algumas palavras para ser interrompida. Ele prontamente disse: “Eu já ajudo duas organizações”. Acredito que, naquele momento, ele pensou que iríamos pedir doação, quando, na verdade, queríamos convidá-lo para participar de um evento sobre as barreiras que grandes marcas enfrentam ao tentar se conectar com esse público, que de novo não tem nada. Apenas era ignorado, e a sua atitude, só comprovou a nossa teoria.
Poderia citar diversos casos de preconceito, desrespeito e desvalorização que enfrentamos enquanto atuantes em favelas e territórios periféricos. No entanto, percebo que relatar esses casos, embora necessário, não será suficiente para mudar o cenário. Esta é uma luta longa. O mercado precisa reconhecer que as favelas têm profissionais de alto nível, que compreendem profundamente a realidade local e são capazes de oferecer produções autênticas e inovadoras.
Esse mercado também é nosso, e não vamos baixar a cabeça. Estamos aqui para furar essa bolha, e tenho certeza de que conseguiremos. Afinal, não estamos pedindo espaço, estamos tomando o nosso lugar.
Fran Rodrigues é jornalista, fundadora do Potência Periférica e coordenadora de comunicação do G10 Favelas, atuando há 11 anos em Paraisópolis.
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